Tomando como base os dados econômicos de uma Unidade de Referência Tecnológica de ILPF localizada no município de Barra do Garças (MT) e dados de fazendas de referência para a região, uma de agricultura e outra de pecuária (cria), os pesquisadores fizeram testes de sensibilidade. Simularam o impacto de diferentes variações de preços da soja, milho e da arroba de boi em cada propriedade. Os cenários variaram desde a queda no preço em 15% até o aumento em 15%.
Simulando a oscilação no preço das commodities agrícolas, enquanto a fazenda com ILPF apresentou uma variação no índice de lucratividade entre a queda de 28% e aumento de 28%, a propriedade só com lavoura variou sua lucratividade de -47% a 44%.
Da mesma forma, oscilando o preço da arroba de boi, a fazenda de ILPF teve variação na lucratividade entre -6% e 6% e a fazenda de pecuária entre -14% e 17%.
A pesquisa não incluiu simulações com variação no preço da madeira devido à inexistência de uma série histórica de preços para madeira plantada em Mato Grosso.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril Júlio César dos Reis, os resultados demonstram que o sistema ILPF é menos sensível a variações nos preços, tanto para variações positivas quanto negativas. Além disso, em situações extremas, de queda ou alta de preços, a ILPF se mostra mais estável do que os cultivos exclusivos.
Esse resultado é importante em um cenário em que os produtores vivem constantemente com o desafio de maximizar os lucros e reduzir os riscos. Porém, o cientista alerta que todo o planejamento feito pode ser perdido devido às oscilações de mercado que fogem ao controle de dentro da porteira.
Júlio César explica que a lavoura se mostra mais sensível às variações de preços devido ao efeito escala de produção, à maior tecnologia envolvida e aos custos de produção mais elevados.
“A fazenda referência de lavoura apresenta um nível de adoção de tecnologia muito maior do que as práticas produtivas que configuram o aporte tecnológico utilizado no sistema de produção de referência de pecuária. E, mesmo considerando que a fazenda com ILPF apresenta uma mistura de ambos os sistemas e, consequentemente, de práticas, tecnologias e custos, os resultados do sistema ILPF se mostram superiores em todas as situações”, analisa o pesquisador.
Lucro mesmo com quedas de preços
Outro apontamento da pesquisa é que mesmo nos cenários com maior queda de preços das commodities agrícolas ou da arroba, a ILPF sempre se mostra lucrativa. Ao contrário das fazendas de lavoura e de pecuária, que com queda de 5% no preço já passam a dar prejuízos.
Índice de lucratividade representa o retorno para cada R$ 1 investido. Dessa forma, números iguais ou superiores a 1 significam lucro e abaixo de 1 mostram que a atividade gerou prejuízo.
Para os pesquisadores, os dados levantados demonstram que os sistemas ILPF podem ser considerados estratégias viáveis e competitivas para minimizar os riscos de mercado, proporcionando melhores condições para os produtores se planejarem a longo prazo.
“Os impactos nos indicadores da ILPF foram menores, indicando sua capacidade de minimizar alterações nos retornos esperados, aspecto fundamental para produtores avessos ao risco e atuantes em mercados altamente competitivos”, afirma Júlio César dos Reis.
O pesquisador ressalta, entretanto, que os dados obtidos na avaliação feita em Mato Grosso podem sofrer alterações em outras regiões e com diferentes sistemas produtivos. Por isso, considera fundamental que novos estudos sejam feitos, de modo a dar mais subsídios aos produtores.
Commodities independentes
Para chegar aos resultados sobre a sensibilidade dos sistemas produtivos, os pesquisadores fizeram antes um teste de cointegração. Trata-se de uma análise estatística de séries temporais que foi utilizada para avaliar a relação entre as variações de preços das principais commodities para o estado de Mato Grosso.
“A diversificação é um dos argumentos positivos na ILPF. Mas precisávamos ver a forma como as commodities se comportam e se há alguma dependência entre elas. Pois não adianta diversificar os produtos se eles têm um comportamento semelhante ao longo do tempo”, explica a consultora da Rede ILPF Mariana Takahashi.
Avaliando a série histórica de preços de soja, milho, algodão e arroba de boi gordo, de janeiro de 2009 a setembro de 2017, e utilizando diferentes metodologias de análise, eles chegaram à conclusão de que não há dependência entre os mercados das commodities. Ou seja, a variação de preço em uma não interfere na outra.
“Vimos que são mercados diferentes. Eles podem até se relacionar de alguma forma, sendo os grãos usados na alimentação animal e o milho e o algodão sendo culturas de segunda safra, por exemplo. Entretanto, estatisticamente, demonstramos que ao longo do tempo não há relação entre os preços. Cada mercado se comporta individualmente”, afirma a consultora da Rede ILPF.
Pela revisão bibliográfica feita pelos pesquisadores, esse deve ser o primeiro trabalho a correlacionar tantas commodities. Mariana Takahashi explica que a maior parte das pesquisas correlacionam um mesmo produto, observando a relação entre seu preço no mercado interno e externo, ou no máximo dois deles. Com a maior complexidade da ILPF, entretanto, passou-se a ter a necessidade de fazer uma avaliação mais ampla.
O resultado obtido reforça o papel da ILPF como uma estratégia de produção mais segura. “A relativa independência dos mercados de commodities e, como consequência, a não correlação entre os respectivos preços de mercado oferecem possibilidades para minimizar os riscos de mercado via diversificação da produção”, conclui Júlio César dos Reis.
Fonte(s): Canal Rural
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