O primeiro disco de Raul Seixas faz 45 anos neste sábado (21). Krig-ha, Bandolo! é considerado até hoje uma das grandes obras-primas da música brasileira.
Lançado em 1973, após Raul tentar a sorte em outros grupos, o trabalho solo do gênio baiano surpreendeu com ousadia e inventividade. No repertório do álbum, estão sucessos imortais como Ouro de Tolo, Metamorfose Ambulante e Al Capone.
Krig-ha, Bandolo! começa totalmente irreverente. A introdução, Good Rockin’ Tonight, traz trecho de um tape antigo com Raulzito cantando aos 9 anos. E, a partir dali, o ouvinte começa uma viagem ao universo de um artista sem limites.
Roberto Menescal, mestre da bossa nova, foi diretor artístico da gravadora Philips (atual Universal Music) na época do LP. Ele relembra que o disco agradou todos os gêneros, idades e classes sociais.
— Raul era um cara que misturava tudo. Foi inovador e surpreendeu o público, que não sabia o que era exatamente aquilo. Mas foi um estouro de vendas! Uma força, que alcançou público da favela até a classe mais alta. E isso acontece até hoje.
Além da parte musical audaciosa, Raul mostrou, ao lado do parceiro Paulo Coelho, letras divertidas, críticas e poéticas. Em Mosca na Sopa, o duplo sentido dá o recado abusado contra a falta de liberdade de expressão. Em ritmo de capoeira e rock, Raul avisa que chegou para atormentar: "Eu sou a mosca/Que pousou em sua sopa/Eu sou a mosca/Que pintou pra lhe abusar."
Do outro lado, a balada Ouro de Tolo é uma reflexão sobre o conformismo do brasileiro naquele instante, em frases como "eu devia estar contente/porque eu tenho um emprego/sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês..."
Até o título do trabalho pode ser entendido como uma insinuação aos tempos cinzentos da Ditadura Militar. Krig-há, Bandolo! faz referência a um grito de guerra do personagem Tarzan, que significa "Cuidado, aí vem o inimigo".
Já Metamorfose Ambulante é um autodesabafo do artista, que lamenta: "Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante/Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."
Sylvio Passos, fundador do Raul Rock Club, diz que, dessa forma original, a obra de Raul se tornou atemporal.
— Esses temas não envelhecem: questões filosóficas, metafisicas, políticas. Raul sabia usar as palavras na construção das músicas e foi isso que ele ensinou ao seu parceiro na época, Paulo Coelho. Ou seja, tratar de temas complexos de maneira simples e, ao mesmo tempo, sofisticada.
Fonte(s): R7
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